quinta-feira, 18 de março de 2010

Anjo do Céu

Escrevo especialmente para você. E você só compreenderá o sentindo dessas palavras quando o tempo tornar sua carne mais leve que a brisa e mais neutra que espuma.

Retomo agora a conversa que fora subitamente interrompida pela covardia de dizer o óbvio, assim como as palavras que foram guardadas na resignação comum e na comum placidez de nossas alucinações. As mesmas alucinações que exigem minha confissão: fomos perfeitos.

É certo que do lar só restou os ecos das suas risadas e dos passinhos agitados do nosso filho correndo pra lá e pra cá, sem motivo alguns, porque a graça das crianças é justamente não precisar de motivos extraordinários para que sejam felizes.

Essa noite, tive um sonho. De mãos dadas, caminhávamos à beira da praia, nossos pés tocavam a areia ainda úmida pela chuva, o vento e o sal roçavam nossa pele. Não via seu rosto, não ouvia sua voz. Mas sentia seu cheiro, o cheiro adocicado de onde termina o pescoço e começa o ombro. Naquele sonho, naquele momento, ninguém nunca foi tão de ninguém quanto eu fui seu e você foi minha.

Sua presença silenciosa era a certeza de tudo estava e ficaria bem. Ergui meus olhos ao céu, um bando de gaivotas, embaladas pela melodia do mar, dançavam alegremente.Sua cabeça pousou em meu ombro. Meus dedos se perderam nos cachos macios dos seus cabelos. Com os corpos colados, deitamos na areia e adormecemos, protegidos pelo mar e por um mundo puro e nosso.

Acordei sentindo o choro forçar a garganta. Talvez, antes mesmo de acordar, eu já sabia que estava de volta ao mundo dito real, a frieza cruel das paredes do quarto, a imensidão da cama de casal,com um só travesseiro.

Chorei sim. Mas não de dor ou desespero. Chorei de felicidade ao ver que o seu lugar continuava vazio, nenhum corpo imundo maculou os lençóis que foram nossos, nenhum espírito leviano emporcalhou o coração que lhe dei como morada.

Sabe, lembrei-me que em 15 de julho deste ano completa uma década que tomamos uma decisão importante em nossas vidas: começamos a namorar. Um ano depois o fruto desse amor veio ao mundo, completando, digo mais uma vez, a perfeição da união das nossas almas.

Infelizmente, o espaço cedido para esta crônica é insuficiente para escrever sobre nós. Tudo bem. Importante mesmo é que meus leitores saibam que em minha vida houve – e há – uma mulher magnífica e bela. A mais magnífica e bela de todas. Porque sua graça, além do corpo, está na alma guerreira e bondosa.

Em homenagem a esta alma, no próximo dia 15 de julho, tirarei o dia de folga. Irei à praia. Pegarei as melhores ondas. E no momento mágico e único que a energia sagrada impulsionar minha prancha, a brisa e o mar trarão sua alma para mim. E em minhas alucinações, mesmo que por um instante, seremos novamente só nós dois, na comunhão sagrada, unidos numa só alma. Assim, cantarei bem alto a música que um dia celebrou nosso amor:

“Um anjo do céu
Que trouxe pra mim
É a mais bonita
A jóia perfeita

Que é pra eu cuidar
Que é pra eu amar
Gota cristalina
Tem toda inocência

Vem, Oh! meu bem
Não chore não,
Vou cantar pra você“

3 comentários:

  1. Wagnito, realmente o texto foge do seu estilo, mas gostei, singelo, nostálgico e bonito. E a bela música do Maskavo completou o texto com harmonia.
    PS: Estarei mais vezes por aqui.
    Bjs!!!

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  2. Brother!! Sem comentários! Disse tudo!! Praticamente senti tudo o que vc sentiu só de ler suas palavras!!

    Abç!!

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  3. Surpresa com o texto... mas sem deixar de achá-lo lindo...
    Mais uma vez arrasou!!!
    Bjs

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